2° Quimioterapia concluída e o mundo pareceu estar desabando

  Só agora, após concluir os 21 dias da 2° quimioterapia e já ter me submetido a 3° sessão, me vi preparada para este post.
  Pois é, os dias não foram fáceis e acredito que não será o registro mais feliz, tive noites em que o medo de dormir  tomou conta da minha mente. Nunca havia me sentido tão mal, fraca... as náuseas e vômitos se fizeram presentes desde a noite em que cheguei do hospital após ter realizado a aplicação da minha amada quimio (Sim, amo essas drogas do fundo do meu coração, mesmo passando tão mal fazendo uso delas, sei que minha saúde só será concreta e completa após essas sessões que tanto me torturaram dentro desses 21 dias).
  Não pretendi fazer o blogue para registrar apenas as flores no meio do caminho, e me desculpem se essa foi a impressão. Existem sim flores, amigos, amores... mas o caminho é tortuoso também.
  Gratidão pela fé que me move nos dias mais difíceis e pela mãe abençoada e forte que eu tenho. Não que meu pai não seja forte, mas a vida tem me mostrado que sou o "Ponto Fraco" dele, ele definitivamente não consegue me ver sofrer e sou exatamente igual a ele, não tenho estrutura alguma para ver ele ou a mamãe sofrerem por mim, e isso tem me ensinado a maquiar esses tais dias difíceis. Sorrir quando não tenho vontade de sorrir ou responder que estou bem quando não estou. Faz parte. Li que é muito nobre cuidar do coração das pessoas que amamos quando nosso próprio coração precisa de cuidados, mas eu particularmente não chamo isso de nobreza, chamo de amor.
  A toxicidade acumulativa dessa 2° sessão de quimioterapia me proporcionou efeitos colaterais péssimos e muito intensos. Nunca imaginei que sentiria náuseas com água, vento... meu olfato ficou mais intenso do que o de um cão caçador, acreditem que isso é possível rs tão possível que até o aroma matinal mais agradável de café sendo coado, já era motivos suficientes para eu querer vomitar litros. As dietas que no ciclo anterior pareceram tão eficazes com sopas digestivas, picolés de limão, chupar gelo, frutas legumes e hortaliças adequadas para cada situação, não continham o previsto quadro de desidratação e diarreias, muito menos os inúmeros vômitos (O próximo post será sobre dietas e a necessidade de manter um padrão nutricional adequado, prometo rs)
  Dores no corpo e na cabeça tomaram conta de mim pelos longos primeiros dias, as fissuras na boca e língua foram terríveis e o amargor se fez presente todos os minutos. Após completar uns doze dias, para acalmar meus pais, recebi amigos para figuração de que tudo estaria se encaixando, mas eu fugia das conversas, das crises de risos, para vomitar e me enrolava em cobertas no sofá para disfarçar os calafrios.
  Em dias quentes a pressão arterial caía, a cabeça doía ainda mais, mas eu estava alí, sorrindo, firme para não preocupar ainda mais as pessoas que tanto amo. Nos dias frios as dores no corpo pareciam não ter fim.
  Taquicardia virou meu sobrenome e em algumas madrugadas parecia sentir meu coração bater fora do peito e isso realmente me assustava. Eu não tenho mais uma boa noite de sono a dias e sabendo que preciso dormir para reconstruir meu sistema imunológico, me preocupo com isso cada vez mais. Foquei no mais importante que era garantir que eu estivesse longe de um quadro febril e graças a Deus a temperatura não passava de 37.7 e isso me confortava muito mesmo com as insônias.
  Com o passar dos dias eu aguardava uma melhora e algum sinal físico de que tudo se encaixaria e essa tal melhora não chegava nunca. Foi quando um amigo, desses que a vida nos presenteia, me procurou por whatsapp perguntando sobre novidades e eu claro, guardei minha angústia no bolso para ouvi-lo com todo carinho e atenção. E aquele amigo que tanto me encorajou no enfrentamento dessa batalha contra o câncer, que sempre me fala e me lembra a mulher incrível e forte que eu sou, me notificou que estamos juntos nessa luta contra o câncer... parei alguns segundos sem entender a afirmação e me dei conta de que toda a força e confiança que ele sempre me passou por ter vencido um câncer também, eu teria redobrada para nós dois naquele momento. Ele venceu um linfoma e em um exame de PET SCAN (O exame pet scan, também chamado de tomografia computadorizada por emissão de pósitrons, é um exame de imagem muito utilizado para diagnosticar precocemente o câncer, verificar o desenvolvimento do tumor e se há metástase), acusou uma recidiva, o câncer dele voltou.
  Não sei explicar o turbilhão de emoções que me tomou naquele momento, chorei de raiva teclando conforto e enviando áudios afirmando que somos muito mais fortes do que isso, do que essa doencinha medíocre. E sim, somos e vamos vencer tudo isso juntos, um em cada estado. Eu senti muito por não estar em boas condições físicas para encarar um voo e poder abraçá-lo ou poder enfrentar horas de estrada e chegar de surpresa com a minha cara pálida, olheiras sem fim, fraca, com uma respiração agitada e curta e ainda assim afagá-lo em um longo abraço, daqueles em que não precisamos falar nada e o silêncio diz tudo.
  A Única coisa que eu realmente entendi enfaticamente, foi quando eu perguntei:
Como você está?
E a resposta mais breve foi:
  -Com preguiça de ter que encarar tudo isso novamente e incomodado por não ter mais o controle de nada.
  Foi a resposta mais simples e mais clara que eu poderia ouvir e me encaixar. Quanto é corajoso encarar tudo isso, cada sessão do tratamento, cada dor física, cada desgaste, cada angústia, sabendo que não temos mais o domínio de definitivamente nada. Tentamos estipular metas, mas nada nem ninguém nos assegura de que conseguiremos concluí-las com louvor.
  E pasmem, esse amigo gênio, forte e guerreiro, está mestrando em um estudo que se baseia em alterações de RNA mensageiro, se dedicando piamente para a cura do câncer. A vida é mesmo muito irônica não é!?
  Quantas vezes você se deparou com situações que soaram injustas? Eu ultimamente tenho tentado manter meu peito aberto para a aceitação de tantas etapas turbulentas, mas administrar mentalmente tudo isso nos piores dias foi bem complicado.
  Já absorvi e aceitei depois de muitos estudos, que o câncer é um reflexo da condição humana. Mas é tão mais fácil administrar que um fumante de uma vida tem câncer de pulmão ou que alguém que se destrói em alcoolismo tem câncer de fígado, afinal eles sabiam dos riscos que corriam.
  Entendo que viver de alimentação saudável, não orgânica infelizmente, favorece a ocorrência de deslizes genéticos, uma mitose em multiplicação celular errada que banhada por agrotóxicos de frutas legumes e verduras, anos regados a noites de insônia, alta no cortisol, nos dá a condição de adoecer acreditando ser saudável e ganhar de presente um câncer.
  A quem diga que a imunoterapia já alcançou a cura do câncer. A quem diga que a indústria e o mercado farmacêutico jamais permitirão que essa cura simples seja acessível para reles mortais...
  A única coisa que eu quero acreditar, é que vale a pena cada dia difícil, cada dor, cada angústia, cada leitura científica baseada em uma melhora no quadro de recuperação e reconstrução da defesa imunológica, cada noite de sono perdida com aflições físicas e emocionais...
  E enquanto chega aos meus ouvidos que seres medíocres falam de pacientes oncológicos e de mim assim:
  -Coitadinha, tão fraquinha né!
  Eu me sinto ainda mais forte, por vencer o câncer e essa batalha TODOS OS DIAS.
"Coitadinha e fraquinha? Logo eu... que VENÇO O CÂNCER TODOS OS DIAS".
 

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